Artigo de Elizabeth Alves Bezerra, ativista ambiental e moradora das Vargens, na Zona Oeste do Rio.

Os moradores das Vargens são símbolo de luta e resiliência, do permanecer, do preservar o essencial à vida de hoje e da posteridade. Movimentos populares marcam sua história desde o período escravagista, com a preservação de raízes como o quilombo Cafundá Astrogilda, os pequenos agricultores que desde o século 19 contribuem para a alimentação do carioca, através de hortifrútis produzidos em bases sustentáveis oferecidos em feiras e escolas.

A região das Vargens se manteve predominantemente rural até a década de 1970, quando se inicia uma escalada populacional com o surgimento de loteamentos, comunidades e condomínios. As lutas sociais marcam a trajetória dos moradores, pela preservação ambiental, pelo direito a moradia, pelo enfrentamento a saga desenfreada do poder imobiliário, pelo direito a água, a moradia e a educação. A consciência do direito humano sempre fez parte dessa trajetória, de forma mais organizada desde a criação da Amavag, passando pelo Plano Popular das Vargens até o Movimento S.O.S Vargens, a participação popular sempre trouxe sua voz, principalmente ao enfrentamento do PEU das Vargens e o desmonte ambiental.

Exemplo de resistência popular, a Região das Vargens é um patrimônio ambiental e cultural da cidade do Rio de Janeiro

A criação das duas Unidades de Conservação, uma Unidade na categoria de proteção integral – Revis, e outra na categoria de uso sustentável – Área de Proteção Ambiental – APA que permite conservação com uso sustentável, é o único meio de garantir a ocupação da região respeitando sua capacidade de suporte territorial que é bastante limitada frente a complexidade e fragilidade de seu ambiente natural.

O sistema natural das Vargens com seus sub sistemas encostas e baixadas inundáveis/alagados constitui um prestador de serviços ambientais fundamental e insubstituível na região. Uma de suas principais atribuições entre tantas outras é funcionar como reservatório natural retendo os excessos hídricos das chuvas e dos cursos d´água que descem do Maciço da Pedra Branca.

O uso e ocupação das Vargens só é aceitável dentro dos limites rígidos de suporte de seu frágil território. A não observância desses limites implicarão em graves e incontornáveis impactos ambientais e sociais que irão transformar este território em um espaço inadministrável e gerador de deseconomias para a gestão pública.

Biomas distintos dão elegância natural, beleza singular e diversidade ambiental: O maciço da Pedra Branca uma cadeia de montanha sobre a qual está a maior floresta nativa urbana do mundo, a maior reserva de Mata Atlântica do município do Rio, com uma diversidade fauna e flora que contribuem para o controle da temperatura e da umidade do ar. O não comprometimento social e prioritariamente político levarão o município do Rio de Janeiro a condições sérias de insalubridade, e aumento de calamidades como as que vêm ocorrendo sucessivamente nos últimos anos.

SOBRE O MACIÇO DA PEDRA BRANCA

A Mata Atlântica nunca deixa de surpreender. A existência de espécies mais sensíveis como gaviões e corujas mostra que a floresta da Pedra Branca ainda preserva muito de sua biodiversidade.

O Parque se estende por 12.500 hectares onde já foram catalogadas mais de 166 espécies de aves, entre elas, verdadeiras raridades como o estalador considerado extinto no Rio de Janeiro há 180 anos. Ao todo, foram registradas 26 novas espécies para o parque e duas novas para o município, como o Bico-de-brasa e o Limpa-folha-gritador. O inventário foi coordenado pelo ornitólogo Fernando Pacheco. A Onça-parda voltou a ser vista no Rio após mais de 80 anos, os cientistas comprovaram a presença da onça no Parque Estadual do Mendanha e no Parque Estadual da Pedra Branca.

As florestas das encostas, ou áreas de amortecimento protegem de erosões, e desmoronamentos em caso de chuvas densas.

O tamanho da importância dessas áreas é equivalente ao tamanho da ganância imobiliária seja ela formal ou informal, ao ponto de em reunião com moradores o atual prefeito do Rio acompanhado do Secretário de meio Ambiente e o presidente da Câmara dos vereadores nos comunicarem que a pressão exercida sobre eles só pode ser modificada mediante uma grande mobilização popular A falta de comprometimento de política urbana resultou no crescimento desordenado da cidade, causando consequência sérias devido ao aumento da impermeabilização do solo: resultando nas enchentes.

A preservação dos biomas das Vargens é mais que uma necessidade é uma questão de sobrevivência da própria cidade.

Mais sobre as UCs das Várzeas da Zona Oeste:
– O Plano Diretor do Município do Rio de Janeiro e as UCs das Várzeas, clique aqui
– Luta pelas Unidades de Conservação na região das Vargens, clique aqui
– Sobre os “Campos de Sernambetiba”, na Zona Oeste carioca, clique aqui