Por Comunicação Movimento Baía Viva

 

Dia 27 de Maio é comemorado o Dia da Mata Atlântica e o poder público da cidade do Rio de Janeiro não tem ajudado na conservação desse bioma. Segundo os dados da edição do Atlas da Mata Atlântica da Fundação SOS Mata Atlântica, lançado no dia 25 de Maio, entre 2020 e 2021, o desmatamento do bioma aumentou 66% na comparação com 2019.

Mesmo nos anos de distanciamento social mais intenso por conta da pandemia da covid 19, a área total de desmatamento nos 17 estados compostos pelo bioma foi de 21.642 hectares, o equivalente a 20 mil campos de futebol. Desses 17 estados da federação, cinco acumulam 89% do desflorestamento verificado, são eles: Minas Gerais (9.209 ha), Bahia (4.868 ha), Mato Grosso do Sul (1.008 ha) e Santa Catarina (750 ha).

O básico sobre a Mata Atlântica
A Mata Atlântica é um bioma de floresta tropical que abrange a costa leste, nordeste, sudeste e sul do Brasil, leste do Paraguai e a província de Misiones, na Argentina, composto por diferentes formações vegetais e ecossistemas associados, que se destacam por sua grande biodiversidade incluindo várias espécies endêmicas (que ocorrem apenas nessa região). É o único ecossistema que possui leis de proteção específicas. Outros biomas como o Cerrado, o Pantanal e a Amazônia são resguardados pela constituição de 1988, mas ainda não contam com legislações próprias.

Mas essas informações e dados, que deveriam servir para a criação de políticas públicas de preservação desse bioma pelas instituições públicas e seus gestores, são ignoradas solenemente ano após ano. Na cidade do Rio de Janeiro, em nome da especulação imobiliária, a Mata Atlântica vai sucumbindo para as construções de condomínios, shoppings e galerias. A notícia mais recente é a construção de um condomínio Alphaville entre o Recreio e as Vargens, bairros localizados na Zona Oeste.

O “Empreendimento”, segundo Comunicado ao Mercado   divulgado pela Alphaville S.A., “compreenderá uma área total aproximada de 4 milhões de m2, com um valor geral de vendas parte Alphaville (…) total estimado nessa data em R$ 2,3 bilhões.” Ainda segundo a empresa, o empreendimento prevê a construção de 2.700 lotes residenciais, além de áreas específicas para construção de prédios e comércio. O curioso é que o empreendimento está localizado em uma parte do Refúgio da Vida Silvestre, REVIS dos Campos de Sernambetiba, criado em 18 de março de 2022, pelo Decreto Municipal nº 50.413. Seria um sinal de esquizofrenia?

Quanto vale morar dentro ou lado de uma Unidade de Conservação?
Talvez não seja um sinal de esquizofrenia, mas uma boa e velha jogada de marketing para valorizar as terras, tão distantes do Centro do Rio de Janeiro, para convencer gente abastada a comprar ou investir nessa parte da cidade. Esse é um processo conhecido por gentrificação climática que promove a expulsão de pessoas de média e baixa renda de seu local de moradia causada por melhorias adaptativas às mudanças climáticas usufruídas por pessoas pertencentes à classe média ou alta. Simples assim.

Não é uma solução que resolverá a falta de moradia, muitas casas e apartamentos desses condomínios nessa região permanecem fechados durante a semana, mas usá-la para o desfrute de uma pequena parcela da sociedade carioca, ou mesmo de outras cidades do Brasil. É um projeto do governo municipal que está destruindo a baixada das Vargens entre os limites do Parque Estadual da Pedra Branca e as margens da Lagoa de Jacarepaguá.

O maciço da Pedra Branca é uma cadeia de montanhas sobre a qual está a maior floresta nativa urbana do mundo, a maior reserva de Mata Atlântica do município do Rio, com uma diversidade fauna e flora que contribuem para o controle da temperatura e da umidade do ar. Tudo isso faz parte da Mata Atlântica. Aquele bioma que não tem o que comemorar no dia 27 de Maio.

                   

Mais no site Baía Viva:

Unidades de Conservação das Vargens são modificadas para atender ao mercado imobiliário:

https://baiaviva.org.br/unidades-de-conservacao-das-vargens-sao-modificadas-para-atender-ao-mercado-imobiliario/

A resistência popular que protege a Região das Vargens cariocas

https://baiaviva.org.br/resistencia-popular-que-protege-a-regiao-das-vargens-cariocas/

Mapa cedido gentilmente pelo Lucas Souza de Carvalho

Mapa cedido gentilmente pelo Lucas Souza de Carvalho