Os movimentos S.O.S Jaconé e Baía Viva marcaram presença importante bem no meio do público do maior evento internacional esportivo do ano no Rio de Janeiro. Enquanto rolavam as ondas para a etapa do WSL, campeonato mundial de surf em Saquarema, os ativistas deixavam na areia e nas rodas de conversas a mensagem contra a construção do porto de Jaconé, oficialmente conhecido por Terminais de Ponta Negra.

Desde 2011 ambientalistas, cientistas, moradores da região debatem e protestam contra a construção. De acordo com a tese de mestrado de Geografia da Universidade Federal Fluminense, de Gustavo de Moura Melo, são dezenas de problemas novos que vão ameaçar fauna, flora e turismo local. Nem areias nem ondas vão ser as mesmas depois do porto planejado para escoar a produção de petróleo e gás do pré-sal.

” Segundo a ANTAQ – Agência Nacional de Transportes Aquaviários – , em 2018, existem três fontes de impactos ambientais. Na infraestrutura portuária há impactos devido a obras que necessitam ser realizadas para a ampliação e manutenção do porto, tais como dragagens de berços de acesso e novas frentes de atracação. Quando essas obras são realizadas podem gerar supressão de ecossistemas locais, alterações na dinâmica sedimentar (areias), além de modificar o regime aquático e acarretar em poluição dos recursos naturais da região.

Nas operações portuárias acontecem impactos pela manutenção e abastecimento de embarcações, pelas operações de manuseio, transporte e armazenagem da carga, pelos serviços de manutenção de veículos e máquinas, pela geração de esgoto sanitário nas instalações portuárias.

Todos esses serviços são potencialmente poluidores, geram resíduos sólidos e líquidos que contaminam o ar, os corpos de água próximos, o solo e o subsolo, alterando consideravelmente a paisagem e gerando distúrbios na flora e na fauna local. Além disso, segundo ANTAQ há também geração de ruídos e maus odores e também a atração de animais que são vetores de doenças.

E na navegação (de imensos navios-tanque) os impactos oriundos de embarcações são mais comuns nas proximidades dos portos, em decorrência de vazamentos ou derramamentos de resíduos oleosos ou combustíveis durante as operações de abastecimento e transferência dos mesmos e da poluição do ar gerada nas operações com carga seca como cimento, grãos e minério; da transferência de agentes patogênicos e organismos aquáticos nocivos, por meio da água de lastro; dos efeitos de tintas tóxicas usadas nas embarcações (a base de estanho orgânico), que se desprendem e contaminam a água; e ainda do armazenamento e despejo inapropriado de esgotos sanitários e lixo ” diz o texto.

Do outro lado as alegações são as de sempre. Vale à pena destruir a natureza se os investimentos forem bilionários, nesse caso R$ 2,5 bilhões em investimentos, com geração suposta de 10 mil empregos diretos e indiretos. No site Petronotícias as alegações chegam aos absurdos negacionistas. ” Assim no Rio, como no Amapá. A ditadura ambientalista tenta barrar agora a construção do Porto de Jaconé, um investimento de quase R$ 2,5 bilhões para Maricá (RJ), alegando que há “rochas sedimentares importantes.” A menção de rochas diz respeito aos beachrocks, pedras formadas por milhões de anos, e que foram descritas na caderneta de viagem de ninguém menos que o naturalista inglês Charles Darwin.

EVENTO COM 40 MIL PESSOAS ESTRESSA MEIO AMBIENTE

Um minúsculo exemplo de como o aumento de mobilidade numa região preservada pode prejudicar a natureza é o próprio campeonato de surf. A WSL vem sendo monitorada por autoridades ambientais e consegue realizar um protocolo premiado com o Programa Bandeira Azul da FEE – Federação Internacional de Proteção de áreas costeiras.

Mas quando tem 40 mil pessoas torcendo e centenas de surfistas nas praias, os animais desaparecem. Os períodos de reprodução ficam comprometidos, bem como transporte natural de sementes pelas aves migratórias. A vegetação fica tão protegida e cercada que nenhum pássaro se arrisca.