Por Arnaldo Mailes Neto, bacharel em Engenharia Ambiental pela UFRJ e integrante do Movimento Baía Viva.

“Em 2019, o Brasil foi responsável por um 1/3 da perda de florestas nativas no mundo (1)”

Impressionante, não? Você sabia que no RJ está ocorrendo um processo para aumentar essa conta?

Atualmente, ocorre o processo de licenciamento ambiental do projeto autódromo do RJ (o antigo foi detonado para virar palco de shows) que será localizado na Floresta do Camboatá, em Deodoro, vizinho dos bairros Anchieta, Parque Anchieta, Vila Militar, Bento Ribeiro, Guadalupe, Marechal Hermes e Ricardo de Albuquerque.

Você pode pensar: “Tá! mas qual o problema da derrubada dessa floresta? Qual sua importância?”

  • A Floresta do Camboatá é ocupada por uma vegetação nativa de bioma Mata Atlântica;
    O bioma Mata Atlântica é um dos biomas mais ameaçados do Brasil e em 2009, apenas existia cerca de 29% da cobertura original (6);
  • A Floresta do Camboatá é um dos raros redutos de Mata Atlântica em terrenos planos na capital, cientificamente chamada de Floresta Ombrófila de Terras Baixas (3,4);
  • Ela faz a conexão (ou corredor) entre os três maciços da cidade: os da Tijuca, da Pedra Branca e o Gericinó-Mendanha, sendo um reduto de biodiversidade com a existência também de diversas espécies endêmicas (exclusivas da região) (2);

Mesmo assim podem surgir mais perguntas, como: “Há algum impacto para a população com a derrubada da floresta? E qual o risco para a população com o desmatamento?” Ai que se conecta com as mudanças climáticas!”

De acordo com o relatório de Estratégia de Adaptação às Mudanças Climáticas da Cidade do Rio de Janeiro (5), as regiões no entorno da Floresta (AP-3 e AP-5) estão suscetíveis há variados impactos, tais como:

  • Diversas áreas com risco de inundações em níveis médios e altos (5)
  • AP-5 sendo a segunda área (entre as 5) com maior potencial ao perigo de inundações a unidades educacionais (5)

O desmatamento e futura impermeabilização da área tem potencial para intensificar uma pressão ao sistema público de drenagem e há ocorrência de inundações e enchentes (7)

  • Potencial exposição a altas temperaturas, sobretudo nas unidades de saúde e escolares (infraestruturas estratégicas) (5)

O desmatamento e futura impermeabilização da área tem potencial para intensificar a concentração de calor no entorno, favorecendo uma expansão da ilha de calor local (como sensação térmica maior) (8)

Esses pontos mostram que a região já é suscetível a impactos climáticos e a derrubada de mata nativa junto a uma impermeabilização tenderá no agravamento destes problemas para a população local.

A cidade possui outras opções locacionais para a instalação de um autódromo e que não necessitem do desmatamento de uma Floresta nativa, a escolhida é totalmente prejudicial para a biodiversidade, clima e a saúde da população. Mesmo com a possível reparação em forma de plantio em outro local, a biodiversidade não “ressuscita” e espécie se extinguem.

A Floresta ainda tem potencial para que a população utilize melhor os seus serviços ecossistêmicos, como em um sistema de parques e áreas de lazer.

Enquanto no resto do mundo surgem ações de resiliência e adaptação contra os efeitos das mudanças climáticas, na criação de áreas verdes urbanas, redução das emissões atmosféricas locais e introduzindo as Adaptações baseadas em Ecossistemas (AbE) (9), a cidade do RJ segue para um caminho contrário e irreversível.

Existe um movimento dialogando pela execução do empreendimento em outro local, o SOS Floresta de Camboatá, formado por diversos profissionais da sociedade civil:

https://www.facebook.com/FlorestaDoCamboata

https://www.instagram.com/sosflorestadocamboata/

Também está ocorrendo um abaixo-assinado, dê seu apoio: https://secure.avaaz.org/po/community_petitions/Governo_Pela_preservacao_da_Floresta_do_Camboata_Que_o_autodromo_seja_em_outro_lugar/

Referências:

1 – Relatório da Global Forest Watch, 2019 – Disponível em: <https://blog.globalforestwatch.org/data-and-research/destruction-inevitable-fate-our-forests/>

2 – Entrevista com o pesquisador do Instituto de Pesquisa Jardim Botânico, Doutor Haroldo Cavalcante de Lima, 2019 – Disponível em: <https://www.oeco.org.br/reportagens/no-meio-do-caminho-de-um-autodromo-ha-uma-floresta/>

3 – Pesquisador do Inpa e ex-diretor de Pesquisas do Jardim Botânico são premiados pelo CREA-RJ (por pesquisa sobre a Floresta do Camboatá), 2017 – Disponível em: <http://portal.inpa.gov.br/index.php/component/content/article?id=2960>

4 – Avaliação da vegetação do remanescente florestal do Morro do Camboatá, 2013 – Disponível em: <http://urbecarioca.com.br/wp-content/uploads/2018/06/ANEXO-1-PRESERVAR-FLORESTA-Relatorio-TEC-JARDIM-BOTANICO.pdf>

5 – Estratégia de Adaptação às Mudanças Climáticas da CRJ, 2016 – Disponível em: <http://www.centroclima.coppe.ufrj.br/images/Noticias/documentos/Estrategia_adaptacao_PT_260417.pdf>

6 – Relatório Final – Atualização do Mapa de cobertura vegetal nativa da Mata Atlântica, 2009 – Disponível em: <https://mma.gov.br/images/arquivos/biomas/mata_atlantica/Relatorio%20Final%20Atualizacao%20do%20Mapa%20de%20cobertura%20vegetal%20nativa%20da%20Mata%20Atlantica%201.pdf>

7 – Plano de Adaptação Climática do ERJ, 2018 – Disponível em: <http://centroclima.coppe.ufrj.br/images/documentos/Produto_11_PAERJ-Relat%C3%B3rio_Final.pdf>

8 – Mudanças Climáticas e as Ilhas de Calor: estudo de caso da Cidade do Rio de Janeiro, 2016 – Disponível em: <http://portalgeo.rio.rj.gov.br/estudoscariocas/download/3463_Ilhas_de_Calor_Rio.pdf >

10 – ADAPTAÇÃO BASEADA EM ECOSSISTEMAS: Oportunidades para políticas públicas em mudanças climáticas, 2015 – Disponível em: <https://pmma.etc.br/?mdocs-file=1335>

Na imagem há uma dimensão da área e uma previsão do empreendimento em estudo.