Enquanto o mundo comemorava o Dia Internacional dos Povos Indígenas, 9 de agosto, criado pela ONU em 1995, dois homens não identificados, numa motocicleta, invadiram à noite a sede do Instituto Nhanderekó, na aldeia Mata Verde Bonita, em Maricá, Rio de Janeiro. No ataque covarde eles atearam  fogo em cerimoniais religiosos,  equipamentos, balcões e uma obra de arte doada pela artista francesa Delphine Gabbri Lawson, colaboradora do instituto. A repercussão foi imediata e promete crescer durante a semana. O mesmo local foi atacado há um ano, com invasão do cemitério indígena e da casa de oração.

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” O Movimento Baía Viva se solidariza com a comunidade da Aldeia Guarani Mbyá de Mata Verde Bonita, de Maricá… Este ato criminoso insere-se no contexto da tentativa de coação para aprovação por setores do Congresso Nacional do absurdo e ilegal “Marco Temporal” que está provocando o acirramento de conflitos territoriais em todos o país com vários casos de parentes feridos à bala e assassinatos por pistoleiros armados. Exigimos uma imediata investigação por parte da Polícia Federal e providências urgentes por parte dos Ministérios dos Direitos Humanos, Igualdade Racial e dos Povos Indígenas e da FUNAI, Defensorias Públicas Federal e Estadual e do Ministério Público para evitar que aconteça uma tragédia maior, Apenas três das 8 aldeias indígenas do estado do RJ já foram demarcadas e homologadas pelo poder público”, diz a nota do movimento Baía Viva.

Área de conflito provocado por tentativa de resort espanhol

A restinga da Área de Proteção Ambiental (APA) Estadual de Maricá conta com populações tradicionais como a centenária Comunidade Pesqueira de Zacarias e a Aldeia Guarani de Mata Verde Bonita. A APA abriga biodiversidade com plantas e sementes utilizadas no artesanato, construção das moradias, rituais e medicinas indígenas. Há 10 anos um projeto de turismo tenta violar a área para implantar um resort de alto luxo, de propriedade da empresa espanhola IDB Brasil. O emprendimento está embargado desde maio de 2023 pelo Supremo Tribunal de Justiça (STJ) que considerou fraudulentos os processos de licenciamento ambiental e urbanístico da empresa.

Segundo o cacique Tupã Nunes, um ritual acontecia na casa de reza quando o ataque ocorreu. Duas pessoas que faziam a segurança da aldeia viram os suspeitos fugindo em uma moto. O fogo consumiu todo o material do instituto, incluindo fogão, utensílios domésticos, sofás e quadros, além de equipamentos de internet e os materiais visuais fornecidos pela artista francesa. “Custamos muito para poder construir e realizar o sonho da comunidade e ter um instituto com CNPJ para a gente ter os nossos projetos, divulgar melhor a nossa cultura”, disse o cacique.

A Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) foi informada sobre o incidente. Na segunda-feira (12), a Polícia Federal realizará uma perícia no local para investigar o caso.

Em julho outra religião foi igualmente atacada

Na madrugada do dia 13 de julho, também em Maricá, o Centro Espírita Axé das Almas, um terreiro de umbanda localizado no bairro de Itaipuaçu, foi parcialmente incendiado. O espaço tinha diversas imagens e utensílios religiosos, atingidos diretamente pelo fogo. Ninguém foi preso. LEIA MAIS 

O prefeito de Maricá, Fabiano Horta, do PT expressou seu repúdio à violência em nota no instagram. A Secretaria Municipal de Assuntos Religiosos está acompanhando as investigações e oferecendo apoio e solidariedade nos dois casos. ” Permanecemos unidos contra o preconceito “, declarou na nota.

História da Aldeia

Tekoa Ka’Aguy Hovy Porã (Aldeia Mata Verde Bonita) está localizada no bairro de São José do Imbassaí. A aldeia possui 93 hectares, dentro da APA. Segundo dados de junho de 2021, cerca de 90 habitantes, de 15 famílias da etnia Guarani Mbya, habitam o local.

A formação da aldeia se deu pelo processo de imigração de um grupo da etnia Guarani Mbya. Nos anos 2000, eles vieram de Parati Mirim e, inicialmente, se deslocaram para Niterói, no bairro de Camboinhas. “Devido a conflitos territoriais, a ocupação em Camboinhas teve que ser abandonada e uma nova aldeia foi construída no Município de Maricá” (Martins, 2016). A convite do prefeito em exercício na época, Washington Quaquá (PT), o grupo se instalou em Maricá e passou a ocupar a região. Atualmente, a Tekoa Ka’Aguy Hovy Porã tem cerca de 40 famílias e 127 aldeados ao todo. Deste número, 39 crianças estão na escola.

 

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