Artigo do historiador e pesquisador carioca, Marcelo Sant’ Ana Lemos, publicado originalmente no Jornal Abaixo Assinado, em Fev/2022.
O que é uma turfeira?
É um tipo de solo orgânico formado a parti r de restos de vegetais não completamente decompostos, embebido em muita água, que no caso da Baixada de Jacarepaguá, eram partes de antigas lagoas e que foram aos poucos se transformando em áreas pantanosas e depois em turfeiras. Geralmente tem cobertura vegetal esses solos. Uma parcela das regiões da Vargem Grande e de Vargem Pequena são de solos turfosos. Esses solos deixados em condições específicas ao longo de milhões de anos podem se transformar em jazidas de carvão mineral.
O mapa abaixo mostra as áreas de maior ocorrência desses solos, feitas por Silvio Fróes de Abreu, na década de 1950, que podem produzir a turfa, usada como fonte de energia, a parti r desse solo seco ao sol, pois contém muito carbono orgânico, que produz de 3500 a 4500 calorias, de acordo com teor da cinza existente na queima do solo.
Durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), em que se derrotou o nazi-fascismo que ameaçava o mundo, pensou-se em uti lizar essa jazida para produção de combustíveis, já que na época o Brasil dependia do petróleo e carvão importado dos países que estavam em guerra, e por isso tinha racionamento de gasolina e fazia uso de outras fontes como o gasogênio (gás obtido a partir da queima do carvão) e poderia fazer uso da turfa. Houve até por parte da antiga Estrada de Ferro Central do Brasil o uso de minério provindo das turfeiras do Vale do Paraíba, para poder alimentar suas locomotivas a carvão.
Na década de 1940 foi concedida uma autorização de pesquisa dessa área a um particular, mas logo depois a jazida foi encampada pela Coordenação da Mobilização Econômica, órgão criado durante o esforço de guerra para coordenar diversas ações do governo, entre elas a de abastecimento de combustíveis para população nesses tempos de racionamento. Essa coordenação explorou 1000 hectares de terras que ficava entre a Estrada de Bandeirantes e o oceano.
Foram feitas pesquisas pelo engenheiro Pedreira que viu as grandes diferenças entre os solos com turfa. Não só no teor de água, que variava de 85% a 90%, nesses solos, mas também a composição orgânica deles que mostravam diferentes processos de origem (turfa gelatinosa ou uma turfa esponjosa ou sapropelitos). Por serem solos com grande teor de água na sua composição não se pode edificar construções neles, sob o risco de racharem e afundarem as estruturas, por isso devem permanecer como áreas de preservação permanente.
Nesses tempos de especulação imobiliária acelerada na Zona Oeste (legal ou ilegal) e de falta de projetos de moradias populares para a população de baixa renda, essas áreas “vazias” são uma grande tentação para ser ocupada, o que seria um risco e uma irresponsabilidade, que deve ser sempre bem repeti da: são áreas não edificáveis!!
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