Comunicação do Baía Viva
Pescadores e ecologistas realizaram, no dia 25 de Maio, um protesto contra a intensa e crescente poluição dos rios que deságuam na Lagoa de Captação da Estação de Tratamento de Água (ETA Guandu), considerada a maior do planeta e que diariamente abastece 9 milhões de pessoas de municípios da Baixada Fluminense e do Rio de Janeiro.
A Lagoa de Captação da ETA Guandu também recebe grande volume de esgotos não tratados dos rios dos Poços, Queimados e Ipiranga que têm sido apontados como os principais responsáveis pela Crise da geosmina que vem ocorrendo desde o final de 2019, comprometendo a qualidade da água, que passou a ter cheiro e odor forte e cor amarela, para consumo humano.
Os pescadores e integrantes das Pastorais da Igreja Católica e de movimentos de defesa de pessoas em vulnerabilidade social na Baixada Fluminense, também questionam a obra de construção de uma barragem que, segundo a CEDAE, teria por objetivo desviar as águas dos Rios Poços e Ipiranga. Já os pescadores e movimentos sociais locais alegam que o projeto afetará a APA GUANDU AÇU, conhecida como ‘Pantanal Iguaçuano’, que correria o risco de virar um depósito de esgoto.
A manifestação aconteceu na Estrada Rio São Paulo, nas imediações da Estação de Tratamento de Água (ETA) do Guandu por conta da falta de diálogo da CEDAE com os pescadores e a comunidade local. Os manifestantes exigem que a Cedae suspenda a execução do projeto, que, segundo eles, está embasado em dados técnicos e ambientais antigos. O Estudo de Impacto Ambiental (EIA) é de 2009.
De acordo com as lideranças dos pescadores, a CEDAE decidiu desengavetar o projeto por causa da crise da geosmina, composto orgânico que vem afetando a água distribuída pela empresa à população da Região Metropolitana. A proposta básica da obra seria desviar da ETA do Guandu as águas dos rios que nascem na Baixada Fluminense, alterando seu curso natural. Com a construção de uma barragem, as águas dos Rios Poços e Ipiranga seguiriam um novo caminho, por dutos enterrados na terra que passarão ao lado da ETA, sendo devolvidas ao Rio Guandu um pouco mais a frente, sem nenhum tipo de tratamento. Os manifestantes defendem que a CEDAE utilize os recursos para reduzir a poluição dos rios que abastecem a ETA Guandu, já que a falta de tratamento de esgoto é a causa da proliferação da geosmina.
Pescadores reivindicam a abertura de diálogo com a CEDAE e outros órgão públicos
A pedido da diretoria da PESGUANDU (Associação de Pescadores do Guandu), o Movimento Baía Viva entrou em contato nesta manhã com o presidente da FIPERJ (Fundação Instituto de Pesca do Estado do Rio de Janeiro), com a Subsecretaria de Recursos Hídricos da Secretaria Estadual do Ambiente e Sustentabilidade, com a direção da CEDAE e com o Promotor José Alexandre maximino Mota que coordena o GT Segurança Hídrica do Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Justiça de Tutela Coletiva de Defesa do Meio Ambiente e da Ordem Urbanística (CAO Meio Ambiente) do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro solicitando a abertura de um canal de diálogo com os pescadores afetados pelas intervenções propostas na Lagoa do Guandu que poderá piorar a sua atividade de subsistência familiar. Numa reunião com os órgãos públicos, além de solicitar maior transparência no processo de escolha das alternativas de obras destinadas ao combate da crise hídrica que vem ocorrendo no Rio Guandu. Os pescadores e ecologistas pretendem apresentar um conjunto de propostas voltadas para geração de renda dos pescadores e melhoria das condições de vida e para a Segurança Ambiental dos mananciais hídricos da região.
Rio de Janeiro teve quatro graves crises hídricas em 20 anos e caminha para um colapso nesta década, segundo estudo do Baía Viva.
De acordo com o Estudo “A CRISE DAS ÁGUAS DO RIO DE JANEIRO”, produzido pelo Movimento Baía Viva: “Nos últimos 20 anos a populosa Região Metropolitana fluminense tem sofrido sucessivas crises hídricas como as que ocorreram em: 1997, 2000, 2014-2015 e a atual que vem se prolongando desde 2019 até 2021. A origem desta situação que afeta diretamente a saúde coletiva deve-se a um conjunto de fatores associados e combinados, entre os quais destacam-se: o agravamento das condições climáticas globais como estiagem e secas; o risco de desastre ambiental provocados por instalações industriais de grande porte como é o caso do risco iminente de deslizamento e/ou desmoronamento da enorme montanha de lixo químico (escória de aciaria) da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) e da empresa americana HARSCO Metals que acumulam ilegalmente na beira do Rio Paraíba do Sul, em Volta Redonda, uma montanha com 40 metros que contém um volume de mais de 4 milhões de toneladas de escória de aciaria (lixo industrial) e, principalmente, por consequência do elevado déficit sanitário da maioria das cidades: uma vez que no território fluminense apenas 30% de todo o volume de esgotos produzidos diariamente em 92 municípios por mais de 17 milhões de pessoas é tratado. Este preocupante quadro de escassez ou estresse hídrico tende a se agravar nos próximos anos em função dos efeitos climáticos extremos que tem sido cada vez mais presentes, e que vem ocorrendo cada vez mais num curto espaço de tempo, como tem sido visto em diversas regiões do planeta e como já vem ocorrendo no Brasil em vários Estados da federação.
O estudo do Baía Viva aponta o risco do Rio de Janeiro sofrer um colapso hídrico durante esta década e, como alternativa para reverter este cenário de ‘convergência de crises’ ou de ‘múltiplas crises’ ambiental, sanitária e climática aponta um conjunto de propostas e soluções sustentáveis que visam a adoção de medidas de curto, médio e longo prazos visando reverter este cenário crítico, tais como: a recuperação ambiental e reflorestamento das bacias hidrográficas com prioridade para as áreas próximas a mananciais destinados ao abastecimento público; uma maior fiscalização por parte dos órgãos ambientais às principais e conhecidas fontes de poluição presentes nas bacias hidrográficas do estado e a ampliação dos investidores em saneamento básico e em saneamento ambiental por meio da implantação dos Planos Municipais de Saneamento Básico que, apesar de serem obrigatórios por lei, não tem saído do papel. Também um investimento massivo na educação ambiental e sanitária da população ajudaria bastante a mudar a cultura de desperdício da água e o lançamento de lixo, esgotos e agrotóxicos nos corpos hídricos. Para isso, o saneamento ambiental das cidades localizadas nas bacias hidrográficas dos vulneráveis rios Paraíba do Sul e Guandu que garantem a segurança hídrica de 75% da população fluminense, devem ser tratadas como prioritárias e urgentes em função da gravidade da situação: já que no Rio de Janeiro já está se bebendo água de reuso!”, afirma o ecologista e gestor ambiental Sérgio Ricardo que é um dos fundadores do Baía Viva e participa, desde os anos 1990, dos Conselhos Estaduais de Meio Ambiente (CONEMA-RJ) e de Recursos Hídricos (CERHI) e dos Comitês de Bacias Hidrográficas do Rio Guandu e da Baía de Guanabara.
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