Artigo de Sérgio Ricardo, ambientalista e um dos fundadores do Movimento Baía Viva
Os membros do Conselho Estadual dos Direitos Indígenas (CEDIND-RJ) receberam a notícia nesta manhã (26/06/2021) que foi incendiada a Oca localizada no Parque Lage, na Zona Sul do Rio de Janeiro. No local ocorrem rituais, cantos e debates dos povos indígenas de todo o país durante vários dias.
Foi informado aos apoiadores da causa indígenas que filmaram a Oca queimada que a direção do Parque Lage, Sra Yole Mendonça, teria feito um Boletim de Ocorrência na delegacia do bairro e o registre deste fato no caderno de ocorrências do Parque Lage.
“A ascensão ao poder no Brasil, a partir de 2019, de forças políticas de extrema direita e fundamentalistas tem acirrado o racismo estrutural em nossa sociedade e, infelizmente, temos vistos atos de intolerância se repetirem como o incêndio de Ocas e tentativas de despossessão e de desterritorialização de aldeias. Há alguns anos, em Brasília, o índio Galdino foi queimado à noite ao dormir na rua num ato típico de intolerância e racismo. Estas ações violentas são uma expressão do fascismo à brasileira, uma vez que tenta-se não apenas suprimir os direitos originários garantidos na Constituição Cidadã de 1988, como está ocorrendo neste momento no Congresso Nacional e está em debate no STF onde discute-se a aprovação do famigerado “Marco Temporal” que é um grande retrocesso civilizatório já que não reconhece que os povos indígenas tem direitos assegurados às terras que historicamente ocupam e onde vivem protegendo os rios, nascentes e as florestas que são cuidados como ambientes saudáveis e são sua principal fonte de alimentos.
Nos últimos anos, os casos de ocas incendiadas algumas vezes no Estado do Rio de Janeiro, ocorreram comprovadamente em três locais: no Parque Lage, em Duque de Caxias (dentro da Faculdade FEUDUC) e na Aldeia Maracanã. Daí a necessidade de uma investigação rigorosa por parte das autoridades públicas, inclusive da Polícia Federal, já que não se trata de um caso isolado e há fortes indícios de uma prática criminosa feita de forma reiterada e repetitiva, o que configura manifestação de ódio, racismo e intolerância contra os povos indígenas.
O que está acontecendo no país é um ataque generalizado ao direito de existência por parte dos povos originários. O ato de queimar símbolos da cultura num espaço onde buscamos um reencontro com nossa ancestralidade em pleno Rio de Janeiro, uma cidade que é um antigo território indígena e onde no passado houve um massacre e um etnocídio destes povos, não pode passar impune. Os governantes precisam investigar e impedir que este crime cultural se repita mais uma vez!”, declara Sérgio Ricardo Potiguara membro do Conselho Estadual dos Direitos Indígenas (CEDIND-RJ) onde é representante da organização GRUMIN presidida pela escritora Eliane Potiguara e é um dos membros fundadores do Movimento Baía Viva.
Vídeo da Casa Kupixawa incendiada 25 de junho de 2021
Vídeo da Casa Kupixawa na manhã de 26 de junho de 2021
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