Imagine a Serra da Misericórdia, o último grande maciço florestal da Zona Norte do Rio de Janeiro, como um vasto parque público. Um local onde os moradores dos complexos do Alemão e da Penha pudessem ter lazer, respirar ar puro e onde as crianças pudessem aprender sobre educação ambiental. Um cenário onde projetos de agroecologia florescessem, fornecendo alimento saudável para a comunidade, e oficinas de arte e cultura, como as promovidas pelo Instituto Tear, com apoio do Baía Viva, ocupassem as clareiras. Esta visão, um oásis de vida e desenvolvimento social, é o potencial real de um território que um estudo da PUC-Rio descreve como uma “beleza hostil”.

Essa imagem idílica é brutalmente interrompida pela realidade. A Serra é, hoje, mais conhecida por ser um território estratégico em disputa, como evidenciado no recente e intenso confronto entre a Polícia Militar e traficantes do Comando Vermelho (CV). Este episódio é apenas o mais novo capítulo de uma guerra que mantém a Serra e suas comunidades reféns. A violência, tanto a do narcotráfico  uanto a das operações policiais, é o principal obstáculo que impede a transformação da Serra de um corredor de fuga em um polo de desenvolvimento sustentável.

Iniciativas de raiz afogadas pelo fogo cruzado

Projeto de Bike Parque que nunca saiu do papel

Apesar do cenário adverso, a resistência da comunidade floresce nas encostas. Há décadas, coletivos locais lutam para reverter a degradação histórica causada pela mineração e pela ocupação desordenada. O Projeto Verdejar, por exemplo, atua desde os anos 90 no reflorestamento e na promoção da agroecologia (informação do Wikifavelas). Em reportagem da Fiocruz (informação do EPSJV), a agricultura urbana no Complexo da Penha é destacada como um ato de resistência, garantindo segurança alimentar em uma área marcada pela escassez.

Essas iniciativas são a prova viva do potencial da Serra. O estudo da PUC-Rio aponta que ONGs e ações locais demonstram como é possível enfrentar as condições precarizadas e transformar o território. A “Aliança pela Misericórdia” (informação do blog Aliança pela Misericórdia) e o Instituto Tear (informação do Instituto Tear) são vozes ativas que lutam pela implementação efetiva do Parque Municipal Urbano da Serra da Misericórdia. A criação deste parque é vista como fundamental, capaz de gerar melhorias na qualidade de vida e mudanças ambientais, sociais e econômicas significativas para a população. São projetos que, na prática, já promovem atividades agroflorestais que alimentam famílias nas favelas.

O Futuro Adiado pela Guerra

Todo esse esforço, no entanto, é constantemente sabotado pelo conflito armado. A violência crônica e a precarização do espaço restringem drasticamente a possibilidade de desenvolvimento. O estudo da PUC-Rio é taxativo ao afirmar que “a violência e o sucateamento da vida nessa área é um dos problemas que devem ser enfrentados para que possa haver um desenvolvimento completo das comunidades”.

Na prática, quando ocorre um tiroteio—seja por uma operação policial ou disputa de facções—o trabalho para. Os agricultores não podem acessar suas hortas (informação do EPSJV). As atividades de reflorestamento do Verdejar são suspensas (informação do Wikifavelas). O medo impede que o parque saia do papel e que o local seja usado para lazer, como o Parque Madureira ou a Quinta da Boa Vista. A Serra da Misericórdia, que deveria ser um patrimônio ambiental e social da Zona Norte, permanece como uma “zona de sacrifício”12, refém da dinâmica da guerra.

A transformação da Serra da Misericórdia de uma região “opaca e marcada pela violência” para um “ambiente de uso coletivo” depende de mais do que a boa vontade dos seus moradores. Exige políticas públicas efetivas de urbanização, educação e, fundamentalmente, de segurança, que garantam a vida e permitam que o potencial verde da Serra possa, enfim, respirar.

(criado com ferramenta de IA )