Por Marcelo S. Lemos, historiador, integrante do Movimento Baía Viva e autor do livro “O primeiro indígena universitário do Brasil: Dr. José Peixoto Ypiranga dos Guaranys”
Realizado no dia 16 de Março, no Auditório do Clube de Engenharia, no Centro do Rio de Janeiro, o 1º Fórum Indígena do Rio de Janeiro contou com as presenças de Ibá dos Santos Silva – Clube de Engenharia – DRNR; Ângelo Ignácio – Pastoral de Ecologia Integral e Articulação Carioca de Justiça Socioambiental; Marise Guarany – Associação Indígena Aldeia Maracanã (AIAM) , INDIGENARJ e do Conselho Estadual dos Direitos Indígenas do Rio de Janeiro; Iara Nambikara – professora do Instituto de Educação e militante indígena; Taís Tupinambá, representando também o movimento Baía Viva, que é um dos fundadores do Fórum; Ricardo Ajuricaba Tupinambá – Aldeia Maraká ‘nà Resiste; Elvira Satere Mawe – artesã indígena e moradora da Aldeia Maracanã Vertical; Tobi – pajé indígena urbano nascido em Manaus, que vende ervas medicinais e Niára do Sol – Fulni-ô e Kariri Xocó, criadora das hortas no Morro do São Carlos, e na Aldeia Maracanã Vertical. De forma virtual Dauá Puri – da AIAM e do Movimento de Ressurgência Puri(MRP) e Rodiney – Indígena no contexto urbano da região dos Lagos também participaram desse encontro.
Num primeiro momento houve a apresentação dos presentes e suas trajetórias.
Recordou-se muito da luta pela ocupação do antigo Museu do Índio e Aldeia Maracanã, que teve início em 2006 até a expulsão em 2013. Muitos foram os desdobramentos posteriores, como a criação dos diversos movimentos como a Associação Indígena Aldeia Maracanã, Aldeia Maraká’nà Resiste, Aldeia Jacutinga e a formalização do Conselho Estadual de Direitos Indígenas composto de todas as aldeias Guaranis e a aldeia Pataxó, além dos movimentos indígenas urbanos como o GRUMIN e o AULA.
Um dos temas importantes foi o Museu do Índio e as propostas existentes para sua ocupação, inclusive a feita em 2015 com a presença de 40 lideranças indígenas de todo o país. Houve um debate sobre a universidade pluriétnica indígena, que para alguns já está funcionando com atividades no território do antigo Museu do Índio, realizadas pela Aldeia Maraká’nà Resiste, mas que para outros ainda precisa ser construída.
Durante o encontro, houve diversos debates sobre como pressionar para produção de novas políticas públicas voltadas para os indígenas em contexto urbano, como a necessidade da SESAI e Funai estarem presentes também contexto urbano. Depoimentos de trajetórias pessoais marcadas em muitos casos pela violência e o não reconhecimento dos indígenas no contexto urbano deve ser uma luta permanente, inclusive na Educação para reverter esse quadro. Abordagens de temas como descolonização, dívida político-social, perdão pela catequização da igreja católica durante a invasão europeia, a cidade como um espaço a ser desconstruído por meio de uma revolução urbana com a retomada das florestas e não apenas uma arborização e a “indianização” destes espaços com a transformação de espaços de bem viver.
Na reunião, foi informado sobre a existência de uma Conferência Nacional Livre e Popular dos Indígenas em Contexto Urbano, desconhecido pela maioria dos presentes, que está sendo tocada no Rio de Janeiro pela Aldeia Maraká’nà, com a participação de indígenas urbanos, que está agora na sua fase Estadual, para eleger delegados para a Conferência Nacional.
Finalizamos o encontro, conversando sobre a questão das mudanças climáticas e o avanço dos mares sobre todas as cidades litorâneas. É necessário uma unidade tática na luta, pois apesar de existirem divergências e diferentes visões dentro do movimento indígena no contexto urbano, é necessário a abertura de diálogos e pontes para problemas comuns que devem ser enfrentados. Estamos nos organizando para uma segunda experiência do Fórum para dar continuidade aos debates e a construção de atividades.
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