Após mais de 3 anos, promessa de criação de Completo Pesqueiro no bairro do Cajú ainda não saiu do papel, apesar do governo do estado ter gasto quase R$ 100 milhões na compra de terreno do antigo Estaleiro Caneco.

O Movimento Baía Viva fundado em 1984 e pescadores e pescadoras artesanais da Baía de Guanabara se mobilizam para pressionar o governo do estado do Rio de Janeiro visando tirar do papel o projeto de implantação de um grande Complexo Pesqueiro Público na área do antigo Estaleiro Caneco, localizado no bairro do Caju na área portuária do município do Rio de Janeiro (RJ), que foi comprado num leilão em março de 2023 pelo próprio governo do estado por R$ 96 milhões.

A extensa área comprada pelo governo do estado tem 135 mil metros quadrados e pertencia ao Estaleiro Caneco que foi fundado em 1886 e era um dos mais importantes do país no início da indústria naval brasileira.

Ecologistas e pescadores denunciam que o governo do estado está descumprindo a Lei Estadual No. 9.545/2022 que autoriza a administração estadual a buscar parcerias público-privadas para a implantação de um Complexo Pesqueiro e um condomínio industrial no local, cujo empreendimento teria por objetivo apoiar o desenvolvimento da logística do setor pesqueiro fluminense. No entanto, em 3 anos desde a compra deste terreno por leilão, nenhum emprego para a pesca artesanal foi efetivamente gerado até o momento, apesar de ter sido uma das promessas das autoridades estaduais.

Entre 2023 e 2024, o movimento Baía Viva, a Associação de Pescadores de Tubiacanga e o NIDES/UFRJ implantaram o Estaleiro Escola da Baía de Guanabara num galpão industrial do Hangar Náutico da UFRJ, na Ilha do Fundão, com recursos de medida compensatória oriunda do Ministério Público Federal e gerido pelo Funbio, através do qual foram formadas 2 turmas de Aprendizes da Carpintaria Naval Artesanal oriundos de comunidades pesqueiras de 7 municípios do entorno da Baía de Guanabara que durante 5 meses tiveram uma formação multidisciplinar para que pescadores reaprendessem a construir embarcações de pesca. A ausência do Complexo Pesqueiro do bairro do Cajú reduz as oportunidades de trabalho para os pescadores artesanais e seus filhos e netos que já há algumas décadas não conseguem sobreviver com dignidade da pesca nas águas e manguezais da Baía de Guanabara em função da elevada poluição ambiental. A maioria das comunidades pesqueiras tradicionais situadas nas áreas mais poluídas da Baía de Guanabara encontram-se numa situação de empobrecimento e insegurança alimentar.

Para o ecologista Sérgio Ricardo Potiguara, coordenador do Movimento Baía Viva, mestre em Ciências Ambientais e doutorando em Antropologia no PPGA/UFF: “O estado do Rio de Janeiro tem um grande potencial para o desenvolvimento da Economia do Mar por dispor de 3 belas baías (Guanabara, Sepetiba e da Ilha Grande) que ainda apresentam rica biodiversidade, dispõe de várias lagoas costeiras ao longo do litoral, temos 14 municípios costeiros que representam o 3o litoral mais extenso do país, além de sermos o principal consumidor de pescado do país. No entanto, desde a década de 1970/1980 as baias fluminenses e o sistema lagunar vem sofrendo um intenso ‘sacrifício ambiental’ por causa da degradação ambiental provocada pela ausência de tratamento de esgotos sanitários, do grande volume de lixo plástico (lixo marinho), poluição industrial e do avanço irregular da urbanização por meio da especulação imobiliária sobre ecossistemas bastante biodiversos como os manguezais que em muitas cidades fluminenses tem sido destruídos, aterrados ilegalmente. A implantação do Complexo Pesqueiro no bairro do Cajú é fundamental para fomentar a geração de empregos no setor pesqueiro e na consolidação de um modelo de desenvolvimento com sustentabilidade ambiental.”

Mais informações: (21) 99907-5946 (WhatsApp)