Em reportagem especial para o Eco, o jornalista José Alberto Pereira, enquadrou a situação recente de contaminação por tolueno nos afluentes do sistema Imunana-Laranjal na falta de atenção à restauração das matas do sistema APA de Guapi-Mirim. É uma das causas possíveis do acidente acontecido na noite de 3 de abril e ainda não explicado. A água foi suspensa por três dias para 2 milhões de pessoas, por níveis inaceitáveis de tolueno nos coletores de água da CEDAE.

” Uma das maiores ameaças aos manguezais da APA Guapi-Mirim e da Guanabara é a falta de matas nos rios das bacias dos rios… que aumentou sua vulnerabilidade a diversos outros problemas ambientais…Além de ter removido um filtro natural para poluentes vindos do antigo Comperj e de fazendas de gado na região, o desmatamento nas áreas de preservação permanente (APPs) daquelas duas bacias hidrográficas causou erosão, agravando o assoreamento do fundo da Baía de Guanabara ” diz a matéria. O assoreamento faz os poluentes se espalharem mais rápido e irem mais longe.

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Até agora os principais suspeitos estão relacionados a empresas da Petrobrás. Mas tanto a estatal principal quanto a Transpetro, donas dos dutos de onde pode ter vazado o tolueno, negam até o uso do produto naquele ponto.

Em nota, a Petrobrás informou que ” não há produção e nem circulação de tolueno em seus processos e instalações. O duto que vem sendo citado na imprensa como inativo nunca entrou em operação nem circulou produto químico”. A Transpetro informou que “não identificou qualquer despressurização nos dutos que passam por Magé”. E numa reportagem, do site petronoticias.com.br, a Petrobrás levanta suspeitas.

” A agricultura e a pecuária são as principais atividades econômicas na região afetada. O tolueno também é usado na fabricação de pesticidas e defensivos agrícolas. A Petrobrás e Transpetro disponibilizaram mais de 100 profissionais, prestando apoio à CEDAE, INEA e demais autoridades até que a descoberta da causa de contaminação no rio Guapiaçu, que abastece o sistema Imunana-Laranjal, seja esclarecida” diz a matéria.

ACIDENTE VAI SER INVESTIGADO PELO CONSELHO REGIONAL DE QUÍMICA PARA QUALIDADE DA ÁGUA

Na quinta, 18-4, o Conselho Regional de Química criou comissão de avaliação da qualidade de água, a Comissão Temporária de Estudos sobre a Qualidade da Água de Abastecimento. A equipe vai estudar melhorias na fiscalização da água. Os níveis de tolueno identificados pela CEDAE já caíram de 0.59 mg para 0.30 mg por metro cúbico, um nível tolerável que não arrisca danos à saúde.

O tolueno é um composto químico não pode se ingerido ou inalado. É utilizado na fabricação de gasolina, cola, tinta e borracha. A substância pode causar irritação dos olhos, garganta e pele, além de fadiga e sonolência. Em casos mais longos de exposição, pode gerar insônia, náusea, perda de memória, entre outros sintomas.

Na Secretaria de Estado de Ambiente e Sustentabilidade, a nota oficial é que já foram fiscalizadas 26 empresas – no Polo Petroquímico e em áreas próximas -, sendo ouvidos 15 responsáveis técnicos na sede da Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente (DPMA), da Polícia Civil.

Para o movimento Baía Viva, com 30 anos de atividade, essa é a repetição do mesmo filme de horror. A Baía atingida gravemente sofre por meses ou anos. Quem só depende das atividades de pesca, mariscos e caranguejos, entra no mapa da fome. Mas hoje já existem comunidades amparadas por sistemas legais, as associações, resultado de atividade constante dos ativistas de causas sociais.

” Se a Petrobras poluiu, devia indenizar os pescadores impactados. Que podem entrar na causa através das suas associações de pesca com uma denúncia no Ministério Público Federal e Estadual e na Defensoria Pública Estadual pedindo ressarcimento financeiro dos danos morais e patrimoniais (lucros cessantes) sofridos pelo vazamento de Tolueno. Vamos lembrar de citar a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT) que garante proteção aos direitos das comunidades tradicionais e dos seus territórios ancestrais” declarou nota do movimento Baía Viva, assinada pelo diretor, Sérgio Ricardo Potiguara.