Bastou um vento mais forte em Volta Redonda para que todo o esforço de um TAC de milhões fosse prejudicado. TAC – Termo de Ajustamento de Conduta – é um acordo que empresas poluidoras fazem com o Ministério Público para reduzir danos causados por suas atividades.
Na Companhia Siderúrgica Nacional, o TAC de 300 milhões está fazendo instalações diversas, que infelizmente, não previram a crise climática atual. A montanha de escória, resultado da produção de aço, está descoberta ao vento.
” Nossa conduta possui filtros de despoeiramento, lavadores de gases, sistemas de limpeza e lavagem das vias internas, bem como canhões de água que umidificam as matérias-primas e diversos outros equipamentos e ações para controlar a emissão de particulados”, diz a nota oficial da empresa, após a ventania de 13 de julho. A cidade do Aço foi tomada por camadas de poeira preta e filas nos postos de saúde para atendimento a doenças agravadas pela condição do ar na cidade. Pelo visto, nenhum equipamento instalado funcionou direito.
O resultado foi a revolta da população de Volta Redonda, materializada num protesto pacífico. Que à princípio foi quase proibido, como explica do professor Universitário, Roberto Leão, junto com outra explicação mais importante, de como faz mal essa poeira para a população e funcionários da CSN.
Antes mesmo da realização do protesto no dia 23, pelo menos 150 representantes de comunidades de Volta Redonda participaram da criação do “Movimento dos Atingidos pelo Pó da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN)”. Boa parte deles levou, em vidros, o pó preto recolhido de suas casas. As fotos abaixo identificam outras situações do pó, que cobriu praticamente dois bairros inteiros de Volta Redonda.
No último domingo, portanto, veio a manifestação popular. Que contou com a presença de várias entidades de proteção ao meio ambiente, e também dirigentes sindicais. O diretor da Secretaria de Meio Ambiente do Sindicato dos Bancários do RJ, Jacy Menezes, tem uma teoria geral do problema. “O que a grande mídia não fala é que esta situação do agravamento da poluição emitida pela CSN é fruto da privatização da empresa. O capital privado não tem nenhuma responsabilidade com a sociedade e muito menos com o meio ambiente”, explicou Jacy, numa entrevista ao site do sindicato dos Bancários de Volta Redonda.
OUTRA AMEAÇA AINDA MAIOR
Marcelo Lemos, professor e geógrafo, representante do movimento Baía Viva, esteve no protesto e levou com ele o conhecimento da situação da montanha de escória, ao lado do Rio Paraíba do Sul. Essa ameaça está sendo acompanhada pelo Baía Viva há pelo menos 3 anos. ” Estas enormes pilhas de resíduos industriais não param de crescer diariamente e já está em média com 40 metros de altura e uma extensão de mais de 270 mil metros quadrados. Estima-se que diariamente chegam cerca de 100 caminhões de escória neste depósito ilegal de lixo químico que em caso de um desmoronamento, deslizamento ou afundamento do solo, estas enormes pilhas de rejeitos industriais poderão provocar um Colapso Hídrico no sistema de abastecimento de água potável do estado do Rio de Janeiro já que 11 milhões de pessoas, ou seja 70% da população fluminense, depende exclusivamente deste manancial ” diz Marcelo Lemos.
Em dezembro de 2022, para completar o pacote de ameaças naquela região, a Assembléia Legislativa do Rio aprovou a flexibilização no uso das margens do Rio. Na prática, a proposta altera o Refúgio de Vida Silvestre (Revis) do médio Paraíba, que foi criado há seis anos para proteger uma área equivalente a 11 mil campos de futebol.
Com as mudanças climáticas acentuando consequências, o futuro da CSN sem a devida responsabilidade parece incerto. Tanto para a empresa quanto para a população de quem ela depende. Vai ventar mais pó preto e pode desmoronar a escória no Rio Paraíba do Sul. Ou a população vence a batalha pela própria dignidade ou Volta Redonda volta aos anos 80, em Cubatão.
IMAGENS DO PROTESTO DIA 23-07
[…] Matéria sobre a CSN com prof. Marcelo Lemos. […]