Reportagem de Marcelo Bessa ( editado )

Um grupo de moradores e profissionais, incluindo engenheiros e técnicos, alerta para possíveis irregularidades e riscos socioambientais no projeto do Porto de Jaconé, em Maricá (RJ). Segundo estudos realizados, o empreendimento, supostamente ligado à exploração do pré-sal, incluiria também a instalação de indústrias altamente poluidoras, como uma usina de pelotização de minério de ferro — atividade que nada tem a ver com petróleo.

A empresa DTA Engenharia, responsável pelo projeto, e o prefeito de Maricá, Washington Quaquá, são acusados de promover o projeto com informações enganosas e de esconder aspectos técnicos, jurídicos e ambientais importantes. Durante seu primeiro mandato, Quaquá teria alterado o Plano Diretor para permitir a cessão de áreas de Mata Atlântica protegida à DTA, beneficiando o empreendimento e ignorando legislações ambientais.

Pesquisadores apontam que o Relatório de Impacto Ambiental (RIMA) do projeto minimiza os riscos ambientais, focando apenas na infraestrutura, sem detalhar os impactos reais como pavimentações, aterros e contaminações. As maquetes do projeto que circulam na internet indicam claramente a presença de uma usina de pelotização — atividade responsável por sérios problemas de saúde e degradação ambiental no Porto de Tubarão, em Vitória (ES), onde ocorrem doenças respiratórias e poluição mesmo após grandes investimentos em controle ambiental.

A construção do porto em Jaconé, próximo ao COMPERJ, seria motivada por interesses econômicos e pela facilidade de doação de terras, e não por necessidades do pré-sal, segundo os críticos. O local, antes classificado como área de preservação ambiental, corre o risco de ser transformado em uma “Nova Cubatão”, com contaminação do solo, água, fauna, flora e da população local.

A pelotização é um processo em que bolinhas de minério de ferro são produzidas para uso em altos-fornos. Altamente poluentes, esses pellets são estocados a céu aberto e exalam pó tóxico, que pode contaminar o ambiente pelo ar, solo e água. O Porto de Tubarão, mesmo sendo considerado moderno, enfrenta sérios problemas para controlar essa poluição.

Além da destruição ambiental, o projeto é acusado de favorecer interesses estrangeiros, pois serviria para exportação de matérias-primas e importação de produtos industrializados, via navios “containers”, sem qualquer relação com o desenvolvimento da indústria nacional do petróleo.

Moradores e especialistas denunciam que o projeto tenta se legitimar com falsas promessas de emprego e crescimento, enquanto esconde impactos ambientais e sociais severos que podem afetar toda a população de Maricá e regiões vizinhas, como Saquarema.